23 Novembro 2018 às 20:00 jn.pt
Guarda de campo nazi acusado de cumplicidade em 36 mil homicídios

Um homem de 95 anos foi acusado de mais de 36 mil crimes de cumplicidade em homicídio por ter sido guarda no campo de concentração nazi de Mauthausen, indicou esta sexta-feira o Ministério Público de Berlim.

Hans Werner H., cujo apelido não foi divulgado devido às leis da privacidade, é acusado de ter trabalhado como guarda das SS no campo de Mauthausen, no norte da Áustria, entre meados de 1944 e o início de 1945.

Durante esse período, foram mortas naquele campo 36.223 pessoas, sobretudo por gaseamento, mas também por injeção letal, por execução com armas de fogo, de fome e de doenças, indicou o procurador do ministério público Martin Steltner.

O suspeito não é acusado de um homicídio específico, mas a acusação argumenta que, enquanto guarda do campo de concentração, ele ajudou o campo a funcionar.

No total, crê-se que cerca de 95 mil pessoas morreram no complexo do campo de Mauthausen, entre as quais 14.000 judeus, mas também prisioneiros de guerra soviéticos, espanhóis que combateram contra o general Francisco Franco na Guerra Civil de Espanha e outros.

"Ao servir como guarda, ele ajudou ou pelo menos tornou mais fácil o homicídio de muitos milhares de prisioneiros", sublinhou Steltner, acrescentando que o suspeito nega as acusações.

Efraim Zuroff, o principal caçador de nazis do Centro Simon Wiesenthal, indicou que o próprio Wiesenthal era prisioneiro em Mauthausen quando o campo foi libertado pelos norte-americanos em maio de 1945.

Simon Wiesenthal morreu em 2005, depois de uma vida dedicada a perseguir criminosos de guerra nazis para que fossem levados a julgamento.

"De certo modo, dá uma boa sensação de encerramento de capítulo o facto de uma pessoa como ele responder perante a justiça, o que tenho a certeza que seria o sonho de Simon", disse Zuroff numa entrevista telefónica concedida à agência noticiosa norte-americana Associated Press (AP) a partir de Jerusalém.

Hans Werner H., o Rottenführer das SS, mais ou menos o equivalente a cabo, é acusado de ter trabalhado tanto no perímetro exterior do campo como lá dentro, bem como de ter supervisionado o trabalho de prisioneiros numa pedreira próxima.

Nesse papel, Steltner sustenta que o homem "tinha de ter conhecimento dos vários métodos utilizados para matar, bem como das desastrosas condições de vida das pessoas aprisionadas".

Como tal, é acusado de "saber que um grande número de pessoas tinha sido morto por aqueles métodos e que as vítimas só puderam ser mortas com tanta regularidade porque estavam a ser mantidas em cativeiro por pessoas como ele", disse o procurador do ministério público de Berlim.

Agora, caberá a um tribunal analisar as acusações e decidir se o suspeito está apto para ser julgado, depois de Steltner ter indicado que o seu gabinete o considera em condições de ser submetido a julgamento.

Na Alemanha, jurisprudência produzida nos últimos anos sustenta que antigos guardas de campos nazis podem ser acusados de cumplicidade em homicídio, mesmo que não haja provas de que participaram num homicídio específico.

Esse argumento foi invocado pela mais elevada instância judicial criminal do país e levou a uma série de acusações, entre as quais a de um caso em curso no tribunal estadual de Muenster, em que um antigo guarda das SS no campo de concentração de Stutthof, Johann Rehbogen, de 94 anos, está a ser julgado por centenas de crimes de cumplicidade em homicídio.

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